sexta-feira, 12 de abril de 2013

DESPREGADOR URGENTE: Curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho” é censurado no Acre

Numa recente demonstração de autoritarismo e desrespeito à laicidade do Estado, o premiado curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” foi censurado no Acre. O filme fazia parte da programação do Cine Educação, projeto voltado à inserção da arte no ambiente escolar. Entretanto, a temática central do filme (o surgimento de uma relação homoafetiva entre colegas de escola, complexificada pela deficiência visual de um deles) desagradou os líderes religiosos locais. Tais líderes, numa atitude absolutamente inaceitável de intolerância, conseguiram proibir a exibição do filme pressionando os políticos locais. Não satisfeitos com essa barbárie, os fundamentalistas homofóbicos conseguiram paralisar o Cine Educação, cujo futuro está agora ameaçado.
O caso já foi notícia em vários canais, como o jornal A Capa e o Cineclick UOL (confira a lista completa no final do post). Uma outra reação de impacto foi carta de repúdio do Movimento Audiovisual Acreano Contra a Censura, com o subtítulo “O ESTADO BRASILEIRO É LAICO!“, que também lista os prêmios nacionais e internacionais que o curta metragem já ganhou. Segundo o Movimento, este é “um dos filmes brasileiros mais premiados dos últimos tempos em vários Festivais de Cinema Nacional e Internacional”.
Assista aqui o filme “Eu Não Quero Voltar Sozinho” , e confira logo abaixo a mensagem da Lacuna Filmes, produtora do curta, na íntegra:>


Queridos amigos e colegas,
No início da semana recebemos a notícia de que a exibição do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, como parte do programa Cine Educação, havia sido censurada no Acre.
O programa Cine Educação, uma parceria com a Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos, tem como objetivo ”a formação do cidadão a partir da utilização do cinema no processo pedagógico interdisciplinar” e disponibiliza diversos filmes cujos temas englobem os direitos humanos, de modo que professores escolham quais são mais adequados para serem trabalhados em aula.
Na semana passada, no estado do Acre, uma professora escolheu o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho e exibiu-o para seus alunos. Para aqueles que não conhecem, a trama narra a história de Leonardo, um adolescente cego que, ao longo do filme, vai se descobrindo apaixonado por um novo colega de sala.
Alunos presentes na exibição confundiram o curta metragem com o “kit anti-homofobia” e levaram a questão aos líderes religiosos, que mobilizaram políticos da região com o intuíto de proibir o projeto Cine Educação como um todo. Nenhum desses representantes públicos deu-se ao trabalho de ir atrás da verdade e descobrir que se tratava de um programa pedagógico com o intuito de levar o debate sobre direitos humanos para a sala de aula. Mais uma vez no Brasil, a educação perde a batalha contra o poder assustador das bancadas religiosas e conservadoras.
Neste momento, o programa Cine Educação está paralisado. Enquanto isso, os secretários de Educação e de Direitos Humanos do Acre estão articulando com o governador a possibilidade de garantir sua continuidade, enquanto os líderes evangélicos forçam o cancelamento definitivo do programa. Pelo que sabemos, mesmo que o programa seja reativado, o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho será excluído do catálogo e não mais ficará disponível para que professores o utilizem no debate de questões que envolvem algo tão elementar quanto a sexualidade humana e tão importante quanto a deficiência visual.
De forma arbitrária, em uma república federativa cuja Constituição atesta um Estado laico, a sociedade está sendo privada de promover debates. Como pretendemos que adolescentes consigam respeitar a diversidade e formem-se cidadãos lúcidos, pensantes e ativos se informação, arte e cultura (sem qualquer caráter doutrinário) lhes são negadas?
Eu Não Quero Voltar Sozinho não é um filme proselitista, tampouco ergue bandeiras de nenhuma natureza. É apenas uma obra de ficção amplamente premiada em festivais de cinema no Brasil e no exterior, cujos predicados artísticos e humanos transcendem qualquer crença. Ademais, se assuntos referentes à orientação sexual dos indivíduos e seus respectivos direitos civis estão na pauta do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, por que não debatê-los em sala de aula? Que combate sombrio é esse, que reacende a memória de um obscurantismo Inquisidor?
Produtores do Eu Não Quero Voltar Sozinho
Daniel Ribeiro e Diana Almeida
Abaixo, o curta metragem na íntegra:


Posts e Matérias: Cineclick – UOL: Premiado em Paulínia, filme gay é censurado em projeto educativo
ACapa: Curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho” é proibido no Acre, confundido com kit anti-homofobia
No Ghetto: “Eu Não Quero Voltar Sozinho” censurado no Acre.
Papo de Homem: Dois casos de censura
Anderssauro: Eu Não Quero Voltar Sozinho
Update or die: Eu Não Quero Voltar Sozinho
Gay1: Premiado em Paulínia, curta gay é censurado em projeto educativo
Fonte: Bule Voador.

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